A Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores
funcionou de 1883 a 1966. Sua importância para construção da identidade
nacional e desenvolvimento econômico a partir da segunda metade do século XIX é
inquestionável. Entretanto, sabemos que durante todos esses anos, a Ilha teve
outros usos, de acordo com o contexto político e econômico do Brasil.
Em 1915, o sertão cearense passou por uma terrível
seca, deixando milhares de pessoas e animais mortos e os que ainda estavam
vivos, sofriam com a fome. Muitos retirantes vieram para o Sudeste, e um grande
número foi enviado para a ilha das Flores. Esse não foi o único caso do tipo.
Diversos migrantes, sobretudo da região nordeste, vieram para o Rio de Janeiro
em busca de melhores condições de vida e passaram pela Ilha como uma medida
paliativa do Governo.
A Ilha das Flores também foi utilizada como presídio
civil e militar em diferentes ocasiões. Durante a Primeira Guerra Mundial,
alguns soldados alemães, entre os anos 1917 e 1918, foram capturados na costa
do Rio de Janeiro e mantidos prisioneiros na Ilha. Um dado interessante dessa
historia é que como presídio, a Ilha das Flores era bem flexível e os
prisioneiros podiam transitar livremente. Abaixo, foto de prisioneiros alemães:
Inimigos da Revolução de 1930, que levou Getúlio
Vargas ao poder; posteriormente, participantes da Revolução Constitucionalista
de 1932; e comunistas que participaram da Intentona Comunista em 1935, ficaram
detidos na década de 30.
As décadas de 40 e 50 foram bem movimentadas. Após a
Segunda Guerra, os países aliados se uniram mais uma vez para resolver os
problemas dos refugiados. A Europa estava divida em zonas ocupacionais e cerca
de um milhão de pessoas estavam desabrigadas, horrorizadas, feridas ou não
quiseram regressar para suas localidades de origem. Então, criou-se a
Organização Internacional dos Refugiados (OIR), no qual o Brasil aceitou
receber alguns refugiados e estes passavam pela Hospedaria por alguns dias. O
Brasil era um diferencial na OIR porque era o único país que aceitava receber
famílias numerosas. Fotografia de refugiados do Pós-Guerra:
Fotos de Kurt Klagsbrunn
Entre os anos de 1945 e
1954, a Ilha foi utilizada pelo Serviço de Recreação Operária, pertencente ao
Ministério do Trabalho, o qual realizava excursão e festas juninas para
trabalhadores sindicalizados.
Nos anos finais da
Hospedaria da Ilha das Flores já não se havia muitos imigrantes instalados. Em
1968, a Hospedaria passa para o Ministério da Marinha e durante a Ditadura
Civil-Militar, serviu de presídio para aqueles com considerados opositores ao
regime. Nomes como Fernando Gabeira passaram por lá. Recente, a Comissão
Nacional da Verdade realizou uma incursão com ex-prisioneiros para
reconhecimento dos locais de tortura.
Atualmente, a Ilha das
Flores não é mais uma ilha. O local foi aterrado na década de 70 para
construção do trecho da Br 101. A Ilha pertence à Marinha do Brasil e sedia a
Tropa de Reforço da Força de Fuzileiros da Esquadra do Corpo de Fuzileiros
Navais. Em 1996, o Grupo “História de São Gonçalo: memória e identidade” foi
criado para estudo da história local do município e da Hospedaria da Ilha das
Flores, e em 2012, foi fundado o Centro de Memória da Hospedaria de Imigrantes
da Ilha das Flores, conhecido também como Museu a Céu Aberto, com o apoio da
Tropa de Reforço, composto por professores da UERJ, estudantes da graduação e
pós-graduação e realizam-se visitas através de agendamento e abertas ao público
pelas instalações da antiga hospedaria aberto ao público visando conhecer e
abordar a importância desta para a História de São Gonçalo e também do Brasil.
Imagens da Ilha das Flores hoje e o Centro de Memória da Imigração:
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Estudantes visitando à Ilha. |
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Exposição recém-inaugurada. |
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Visitantes na Capela de Santa Terezinha. |
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Visitantes no Totem 4. |
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Sede do Museu. |
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Visitantes assistindo ao vídeo da exposição. |
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Imigrante que passou pela Ilha dando depoimento para a História Oral. |
Para mais informações, ver fotos e vídeos, bem como marcar visitas, acesse o site do Museu:
www.hospedariailhadasflores.com.br