Retornado
a funcionalidade da Ilha das Flores como um espaço apropriado para a
receptividade dos imigrantes advindos da Europa, é válido ressaltar alguns
aspectos sobre a vinda destes e o seu destino final. O fluxo imigratório
aumentava perante a demanda de “braços para a lavoura”[1],
principalmente para a economia cafeeira paulista. No mesmo período o Rio de
Janeiro, sofria com surtos epidêmicos, e tinha que suportar a chegada desses
imigrantes trazendo consigo a esperança de melhores oportunidades de vida em
terras brasileiras. Conforme o artigo de Laurent Vidal e Maria Isabel de Jesus
Chrysostomo[2],
as hospedarias funcionavam como um espaço de espera, mas também de controle
sanitário e social, uma vez que só os estrangeiros vindos de terceira classe é
que passavam pelas hospedarias e eram “protegidos” da insalubridade da capital
federal.
Sendo
a da Ilha das Flores a primeira criada pelo poder público, por ali passaram
italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, russos, poloneses,
franceses, ingleses, suecos, suíços, chineses, árabes, letões e judeus, entre
outros grupos que não possuíam um contato estabelecido aqui no Brasil. Tais
nacionalidades são possíveis de serem identificadas mediante os Livros de
Registro da Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores que hoje encontram-se
no Arquivo Nacional do Estado do Rio de Janeiro, e quem em sua maioria estão
microfilmados. As informações presentes nos livros são as seguintes: data de
entrada, nome do navio, um número de ordem que cada imigrante recebia, nome do
imigrante, idade, estado civil, nacionalidade, profissão, destino e data de
saída, além de ocasionais observações.
Essas
fontes são importantes, pois permitem o cálculo do fluxo imigratório, bem como
das nacionalidades. A seguir há uma tabela do fluxo de imigrantes nos primeiros vinte anos de
funcionamento da Hospedaria, possibilitada por outra fonte importante que são
os Relatórios Ministeriais. Destacam-se o da Agricultura
e o da Indústria, Viação e Obras Públicas, disponibilizados pelo site da
universidade de Chicago: http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial.
Quadro
do movimento de imigrantes na Hospedaria nos vinte anos iniciais
|
|
1883
|
7.402
|
1884
|
8.138
|
1885
|
10.579
|
1886
|
12.501
|
1887
|
18.834
|
1888
|
33.384
|
1889
|
26.848
|
1890
|
66.494
|
1891
|
63.829
|
1892
|
19.088
|
1893
|
18.311
|
1894
|
7.527
|
1895
|
2.056
|
1896
|
32.567
|
1897
|
1.581
|
1898
|
1.570
|
1899
|
3.576
|
1900
|
4.844
|
1901
|
4.514
|
1902
|
3.287
|
1903
|
2.719
|
A
chegada dos imigrantes à Ilha se dava em pequenas embarcações denominadas
“batelões”, pois os navios não podiam ir até a Ilha. Por ser uma área isolada,
a Ilha das Flores era adequada para manter o controle das doenças e completava
o serviço sanitário que começou a ser feito no porto do Rio no fim do século
XIX, como a imagem a seguir demonstra:
![]() |
Aparelho de Clayton utilizado nos processos de desinfecção e fumigação; grupo de desinfectadores, uniformizados, da Diretoria Geral de Saúde Pública (Acervo COC/Fiocruz, s.d.) |
A intenção era deixar o imigrante em um bom
estado, saudável, para assim seguir seu destino após o período de estadia. A
recepção e o acolhimento duravam em média uma semana, segundo os Relatórios
ministeriais.
Bibliografia:
CHRYSOSTOMO,
Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. Do depósito à hospedaria de imigrantes:
gênese de um “território da espera” no caminho da emigração para o Brasil.
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro.
GONÇALVES,
Paulo Cesar. Procuram-se braços para a lavoura: imigrantes e retirantes na
economia cafeeira paulista no final do Oitocentos. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 34, nº 67, p. 283-308 – 2014.
REBELO,
Fernanda. Entre o Carlo R. e o Orleannais: a saúde pública e a profilaxia marítima
no relato de dois casos de navios de imigrantes no porto do Rio de Janeiro,
1893-1907. História, Ciências, Saúde – Manguinhos,
Rio de Janeiro, v.20, n.3, jul.-set. 2013, p.765-796.
http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial
[1] GONÇALVES,
Paulo Cesar. Procuram-se braços para a lavoura: imigrantes e retirantes na
economia cafeeira paulista no final do Oitocentos. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 34, nº 67, p. 283-308 – 2014.
[2] CHRYSOSTOMO,
Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. Do depósito à hospedaria de imigrantes:
gênese de um “território da espera” no caminho da emigração para o Brasil.
História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro.
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