sábado, 4 de julho de 2015

Para que e para quem serve uma hospedaria?


Retornado a funcionalidade da Ilha das Flores como um espaço apropriado para a receptividade dos imigrantes advindos da Europa, é válido ressaltar alguns aspectos sobre a vinda destes e o seu destino final. O fluxo imigratório aumentava perante a demanda de “braços para a lavoura”[1], principalmente para a economia cafeeira paulista. No mesmo período o Rio de Janeiro, sofria com surtos epidêmicos, e tinha que suportar a chegada desses imigrantes trazendo consigo a esperança de melhores oportunidades de vida em terras brasileiras. Conforme o artigo de Laurent Vidal e Maria Isabel de Jesus Chrysostomo[2], as hospedarias funcionavam como um espaço de espera, mas também de controle sanitário e social, uma vez que só os estrangeiros vindos de terceira classe é que passavam pelas hospedarias e eram “protegidos” da insalubridade da capital federal.

Sendo a da Ilha das Flores a primeira criada pelo poder público, por ali passaram italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, russos, poloneses, franceses, ingleses, suecos, suíços, chineses, árabes, letões e judeus, entre outros grupos que não possuíam um contato estabelecido aqui no Brasil. Tais nacionalidades são possíveis de serem identificadas mediante os Livros de Registro da Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores que hoje encontram-se no Arquivo Nacional do Estado do Rio de Janeiro, e quem em sua maioria estão microfilmados. As informações presentes nos livros são as seguintes: data de entrada, nome do navio, um número de ordem que cada imigrante recebia, nome do imigrante, idade, estado civil, nacionalidade, profissão, destino e data de saída, além de ocasionais observações.

Essas fontes são importantes, pois permitem o cálculo do fluxo imigratório, bem como das nacionalidades. A seguir há uma tabela do fluxo de imigrantes nos primeiros vinte anos de funcionamento da Hospedaria, possibilitada por outra fonte importante que são os Relatórios Ministeriais. Destacam-se o da Agricultura e o da Indústria, Viação e Obras Públicas, disponibilizados pelo site da universidade de Chicago: http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial.

Quadro do movimento de imigrantes na Hospedaria nos vinte anos iniciais

1883
7.402
1884
8.138
1885
10.579
1886
12.501
1887
18.834
1888
33.384
1889
26.848
1890
66.494
1891
63.829
1892
19.088
1893
18.311
1894
7.527
1895
2.056
1896
32.567
1897
1.581
1898
1.570
1899
3.576
1900
4.844
1901
4.514
1902
3.287
1903
2.719


A chegada dos imigrantes à Ilha se dava em pequenas embarcações denominadas “batelões”, pois os navios não podiam ir até a Ilha. Por ser uma área isolada, a Ilha das Flores era adequada para manter o controle das doenças e completava o serviço sanitário que começou a ser feito no porto do Rio no fim do século XIX, como a imagem a seguir demonstra:

Aparelho de Clayton utilizado nos processos de desinfecção e fumigação; grupo de desinfectadores, uniformizados, da Diretoria Geral de Saúde Pública (Acervo COC/Fiocruz, s.d.)


 A intenção era deixar o imigrante em um bom estado, saudável, para assim seguir seu destino após o período de estadia. A recepção e o acolhimento duravam em média uma semana, segundo os Relatórios ministeriais.



Bibliografia:

CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um “território da espera” no caminho da emigração para o Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro.

GONÇALVES, Paulo Cesar. Procuram-se braços para a lavoura: imigrantes e retirantes na economia cafeeira paulista no final do Oitocentos. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 34, nº 67, p. 283-308 – 2014.

REBELO, Fernanda. Entre o Carlo R. e o Orleannais: a saúde pública e a profilaxia marítima no relato de dois casos de navios de imigrantes no porto do Rio de Janeiro, 1893-1907. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.20, n.3, jul.-set. 2013, p.765-796.

http://www-apps.crl.edu/brazil/ministerial




[1] GONÇALVES, Paulo Cesar. Procuram-se braços para a lavoura: imigrantes e retirantes na economia cafeeira paulista no final do Oitocentos. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 34, nº 67, p. 283-308 – 2014.
[2] CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um “território da espera” no caminho da emigração para o Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro.


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